fotografia no cinema

O que a fotografia do cinema pode nos ensinar?

setembro 12, 2019

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Cinema e fotografia estão intrinsicamente conectados. É possível afirmar que a invenção do cinema só ocorreu porque, anos antes, a fotografia havia sido inventada. Tanto que, no início do cinema, com os irmãos Auguste e Louis Lumière, considerados os pais desta arte, muito definiam a técnica como fotografia em movimento.

*FATO CURIOSO*

Conta a história que, na primeira exibição dos irmão Lumière, em 1895, denominada “L’Arrivée d’un trains en gare de La Ciotat” (“A Chegada de um Trem na Estação”), um filme com pouco menos de 60 segundos onde um trem chegava à estação de La Ciotat e alguns passageiros desembarcavam, as pessoas que assistiam à projeção correram para o fundo da sala com medo de serem atropeladas pelo trem que se aproximava da tela

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Cooooorreee! Vai bateeer!

*FIM DO FATO CURIOSO*

Sendo assim, muitas das técnicas das duas artes se misturam. E mais: podemos aprender muito assistindo filmes. Sabe como? Observando a fotografia dele. Então prepara a pipoca, pega o refrigerante, senta, relaxa e vamos nessa!

O que é a fotografia de um filme?

É um conjunto de técnicas e ações responsáveis por transpor as páginas do roteiro para imagens. Para muitos, a fotografia refere-se apenas à iluminação da cena, mas nãaao! Ela engloba todo o mise-en-scène (tudo o que está enquadrado na cena: personagens figurino, itens do cenário, profundidade de campo, iluminação… até a escolha do tipo de equipamento é responsabilidade do diretor de fotografia do filme)

Todo filme tem um diretor geral. É ele quem toma a decisão final sobre como a cena deve ser gravada, enquanto o diretor de fotografia aponta os meios para fazer a cena como ele descreveu.

E o que eu posso aprender com o cinema?

A fotografia é uma linguagem independente no cinema e quando os diretores ( os dois, geral e de fotografia) fazem o trabalho bem direitinho, você não precisa de diálogo nenhum para entender o que cada cena quer transmitir, a fotografia faz isso por si só.

A fotografia fala de muitas formas: movimentos de câmera, ações de personagens, enquadramentos, cores. Quentin Tarantino usa elas com maestria em seus filmes.

*SPOILER ALERT – Alguns spoilers podem aparecer a partir daqui. Se você ainda não assistiu a algum dos filmes citados abaixo, corre lá, assiste e depois volta aqui. Eles são incríveis*

Pulp Fiction – Tempo de Violência (1994)

Em Pulp Fiction, após uma análise detalhada, temos a sensação de que nada foi por acaso. Tudo o que o diretor colocou na cena tem um motivo.

O espelho mostra reflexão, uma tomada de decisão necessária. No filme, Vincent precisa tomar decisões em dois momentos. No primeiro, a decisão é pequena, mas ainda assim gera dúvida no personagem. Para simbolizar isso, o diretor posiciona a câmera em contre-plongée, mostrando de quem é o poder de decisão, inclina o horizonte, indicando que ele está em dúvida, e posiciona um pequeno espelho refletindo Vincent, afinal, é o momento de reflexão dele.

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Já no segundo momento, depois de levar Mia, a esposa de seu chefe, para dançar, flertar com ela e se deparar com a decisão moral de trair ou não a confiança dele, Vincent é refletido por um espelho que cobre toda a parede, afinal, essa é um decisão giganteeeesca.
E, assim como na primeira cena, a câmera está posicionada em contre-plongée e a linha do horizonte está inclinada, com a mesma simbologia.

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Na cena do meme de John Travolta, vemos, ao fundo, um quadro com as cores roxo e dourado. Podemos interpretar que o quadro representa os personagens de Travolta (Vincent) e Samuel L. Jackson (Jules).

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O dourado mostra uma libertação espiritual, que acontece com Julius, ao final do filme. Já o roxo simboliza o assassinato de Vincent.

*-

MAS COMO ASSIM O ROXO SIMBOLIZA ISSO? ?

É verdade. Inclusive, existe um livro que aborda o uso das cores , chamado “If it’s Purple, Someone’s Gonna Die – The Power of Color in Visual Storytelling”. Super indico a leitura 🙂 Não encontrei ele traduzido para o português, mas vale muito a pena.

-*

O Grande Hotel Budapeste (2014)

É muito bacana quando somos reconhecidos pelo nosso trabalho. Melhor ainda é quando os observadores vêem nossos projetos e, antes mesmo de ver o nome do autor, já nos identificam. Isso acontece quando criamos uma assinatura visual do nosso trabalho. E isso aconteceu com Wes Anderson, diretor de “O Grande Hotel Budapeste”.

Em seus filmes, a paleta de cores e a simetria nos quadros são muito marcantes. Ele utiliza planos com o objeto principal da imagem bem centralizado e as cores muito bem definidas.

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O uso das cores e o contraste entre elas precisam criar quadros amigáveis aos olhos do observador. Uma forma interessante de utilizá-las é observando um disco cromático e criar paletas complementares, análogas, monocromáticas. Um site que pode nos ajudar nessa definição é o Adobe Color. Use e abuse dele rs

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Lembra que eu falei ali em cima que a escolha do equipamento também é função do diretor de fotografia? Então, os planos do Wes Anderson costumeiramente usam objetivas com o diafragma bem fechado para deixar o quadro todo focado.

2001: Uma Odisséia no Espaço (1968)

O uso de linhas nas composições criam uma dinâmica interessante. O fotógrafo russo Aleksandr Rodchenko utilizou esse recurso em muitas de suas fotos. E o diretor Stanley Kubrick faz o mesmo nesta obra-prima do cinema. As linhas guiam o observador e, com este recurso, podemos direcionar o olhar dele para o objeto principal de nossa foto.

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O Regresso (2015)

As cores são ponto forte aqui também e falam muito. Por ser um filme onde o protagonista passa a maior parte do tempo solitário, em lugares frios, o azul, tido como a cor mais fria, que representa tristeza, melancolia e solidão, predomina o quadro.

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Mas, além disso, o diretor de fotografia utilizou luz natural durante quase todo o filme. Saber usar a luz é tão importante quanto compor um quadro, afinal, diferentes ângulos de luz criam sombras diferentes.

Dominar o uso da luz em seus quadros e entender como a luz e as sombras podem trabalhar a seu favor é de extrema importância. Quando compreendemos a luz, percebemos que não é necessário o uso de equipamentos super caros para este fim.

Em resumo…

Sempre que vamos fotografar, algumas escolhas devem ser feitas e são muito importantes para que alcancemos um bom resultado.

E, muitas vezes, essas decisões referem-se a detalhes pequenos, mas com grande significado. Compor a cena é muito importante. Os objetos falam. Eles não servem apenas para deixar tudo mais bonitinho ou tapar buracos. O posicionamento da câmera transmite sensações. Conhecer e saber como utilizar a luz é essencial.

E como um aprendizado final neste post podemos dizer que, na hora de fotografar, cada detalhe conta!

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